VINTE E QUATRO HORAS DE PENITÊNCIA (OU O CANTO À RESSACA MORAL)
E vieram as horas gordas da noite, o festim dos bêbados — línguas soltas, dentes sujos de riso, o pântano da indulgência sorvendo cada gesto. Ali, a consciência se vendeu barato, merceeira de si mesmo, moedas de orgulho trocadas por migalhas de bebedeira. Besteira colossal, erguida como um monumento de latas amassadas, um altar ao nada — as mãos erguendo copos, as bocas jorrando promessas que morrem antes da aurora. O Super-Eu — o velho cobrador de dívidas — surge ao amanhecer, com seus livros-caixa e dedos ossudos, apontando, enumerando: culpa, falha, decadência. Com ele vem a moral — visita tardia — descalça, cuspindo regras no chão sujo, seu hálito é vinagre e sermão, seu vestido manchado de desprezo. O mal-estar veste o corpo como um sobretudo molhado, infiltra-se nos ossos, faz da alma um cômodo abafado onde a vergonha escorre pelas paredes. Mas o tempo — esse usuário paciente — em vinte e quatro horas lava a lama do chão, a culpa evapora, leve como um suspiro de moribundo, e sobr...