UMA FOTO PERDIDA

Uma foto, fragmento de luz capturada, um instante emoldurado nas dobras do tempo. Mainha, com o lenço cobrindo os cabelos, uma coroa de simplicidade contra o brilho do dia. Segurava meus braços, eu ainda bebê, levando-os ao alto, como quem ergue sonhos ou desenha asas no ar. Os dedos dela, firmes, desenhavam uma memória que ainda pulsa no silêncio da imagem.

Era um dia ensolarado, o jardim da praça dormia em verde, e as sombras dançavam lentas sob os pés de quem não sabia que o momento seria eterno. Ali, entre o riso e o calor, uma promessa se formava: minha irmã, ainda uma ideia, um segredo guardado no ventre, já fazia parte do gesto, do céu que nos abençoava.

O sol e o jardim, tão imóveis, o lenço, as mãos, o ventre materno, tudo resiste. Do antigo álbum de fotografias, esse fragmento permanece, iluminado pelo sol que parece brilhar ainda, não mais na antiga foto perdida, mas na lembrança que a imagem segura, como um eco que nunca se apaga.

Eber S Chaves 

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