UM ENSAIO SOBRE OS AFETOS (OU QUE SOBROU DA MINHA SESSÃO DE ANÁLISE DE HOJE)
O corpo, uma potência em ato, um ímpeto que vibra no limiar do ser. Um aglomerado, um tecido de partes unidas, uma trama de forças, conspirando para existir.
Cada fibra, cada átomo em sua dança silenciosa, mantém o equilíbrio precário, uma sinfonia de movimentos que resiste ao desmantelamento.
Mas o mundo, essa vastidão imensurável, nos supera em muito, erguendo-se como um vento impiedoso, um caos que desfaz nossos gestos, arrasta nossas vontades como folhas, desprendidas e frágeis, flutuando em espirais erráticas.
E ainda assim, no ser levado há potência, uma força que não cessa, mesmo quando não pode moldar o caminho. A existência, não menos grandiosa por sua fragilidade, é um ato contínuo, um persistir, um brilhar no movimento incerto.
Um afeto de alegria nos toca, o abraço de um filho, o corpo da mulher amada, uma melodia que nos invade e transforma, uma verdade que emerge vinda do Outro, durante uma sessão de análise. Cada encontro, um clarão no escuro, uma ponte que se lança entre o Eu e o universo, expandindo o alcance do toque, ampliando o campo do sentir.
Contudo, bem se sabe que há o veneno, o afeto de tristeza, um nó que aperta, um peso que nos curva, que fecha o mundo e apaga as cores. O Eu cai sobre si, menos ação, menos presença, menos ser.
Somos corpo, o corpo que deseja, quer ser preenchido de luz, transbordar. Somos uma harpa ao vento do mundo, cordas que vibram ao toque de forças invisíveis. Somos folhas e, mesmo na queda, há sempre um traço de voo.
Eber S. Chaves
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