Alguma evidência de algo invisível
O menino contemplava a mulher ao longe, além da grama campestre alta e dos arbustos; e ela lhe fazia sinais, abrindo os braços como quem convida a aproximar-se.
A tarde findava-se. O sol, ainda ardente num céu sem nuvens, já havia crestado a grama campestre alta. Em meio à paisagem aparentemente homogênea, o menino avistou as margaridas que floresceram na primavera, tomou duas ou três entre as mãos e foi ao encontro da mulher que lhe fazia sinais, abrindo os braços.
- Reconheces-me? - ela interrogou o recém-chegado.
O menino compreendeu o mistério que acabara de acontecer e sentiu que deveria guardar aquele segredo.
- Não vê nada? - ela tornou a interrogá-lo.
- Uma capela! Os muros de tua capela funerária estão cheios de relíquias e de imagens - o menino respondeu, enfim.
Ela lhe disse alguma coisa ao dizer: - Tu não dirás mais isso. Depois, calou-se.
A fragrância das flores encheu o ar da tarde de primavera com o sopro de uma brisa. O menino respirou muito calmamente e se manteve sereno. A estação das flores costuma trazer uma doce esperança, uma sensação agradável de que virão dias mais longos e ensolarados.
A mulher se despediu do menino e afastou-se, até desaparecer entre a grama campestre alta e os arbustos. Depois de sua partida, os milagres haviam se multiplicado em torno do seu túmulo, hoje repleto de ex-votos, emblemas vivos.
Eber S. Chaves
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