VAQUEIRO VEGANO NO VELHO OESTE
Oeste queimado no sol de cobre, a terra geme sob a pele rachada. Ali, em meio às pastagens, ergue-se o “vaqueiro vegano” - mãos firmes nas rédeas, enquanto examina o campo, sombrio, mas verde. Nenhuma palavra para o gado, que marcha silencioso.
Jhonny Cavaleiro Solitário, assim o chamavam. Sussurros flutuavam nos ventos da pradaria. Um homem sozinho, ou assim pensavam. A poeira grudava em suas botas e em seu chapéu — que ele inclinava lentamente, apertando os olhos contra o sol, como se o mundo se importasse com quem ele era.
O cavalo magro, galopava como um fantasma, os cascos ecoando a canção das raízes. Jhonny Cavaleiro Solitário não usava esporas nem chicote, só um assobio suave. O gado, confuso, hesitava, mugidos se entrelaçavam com a poeira.
“Avante, vacas!” - bradava ele.
Na cidade a zombaria crescia como erva daninha, e a infâmia estava afiada como esporas em botas empoeiradas. No saloon as risadas rolavam como barris de cerveja podre: lá vem ele, o vaqueiro do repolho enlatado! “Só grãos e vegetais agora!" – gritou Jhonny Cavaleiro Solitário em direção ao barman, enquanto os bêbados riam. "Você acha que pode viver de mato?" - gritou um homem comendo costeletas como quem mastiga sonhos.
Mas Jhonny Cavaleiro Solitário, oh, ele se calava. Calava como rio em estiagem, carregando o peso de cem mil bois. Nem uma palavra sobre o grão que colhia, sobre o alívio nos olhos do gado que soltava. A zombaria fazia fileiras ao redor dele, cercas de espinhos de risadas.
Intestino de ferro? Não mais! O médico lhe disse com o dedo apontado como uma arma engatilhada: "Continue com essa carne e vai cavar seu túmulo com um garfo".
Ferro da vida, rasgando por dentro, não as balas no vento, mas o corpo que clama, um grito surdo no ventre. A carne pesava demais - ele pensava - não no prato, mas no sangue, nas entranhas queimando devagar, como pólvora úmida, esperando a faísca. As entranhas traem, o corpo envelhece. Seu corpo carregava o veneno, um tumor escondido nas dobras das tripas, feito o ouro podre no ventre da terra.
"Deixem que riam, vão morrer todos com suas tripas em chamas!” - ele pensava, enquanto mastigava seu punhado de grãos e vegetais. E ele quando partia em direção às pradarias, cavalo magro e alforje leve, deixava para trás mais que rumores - uma erva daninha que ninguém arrancava, crescendo no peito dos zombeteiros: uma dúvida, um desconforto, uma semente de vergonha.
(Segundo conto de uma série de quatro, com temática satírica e surreal sobre o ambiente do cinema western. Por Eber S. Chaves)
Comentários
Postar um comentário