A última cena de um romance
As cortinas se abriram.
No palco os tons preto e cinza predominavam.
Mesa de vidro, tapete estampado, um abajur em art nouveau, luzes em luminárias pendentes, moldura clara em parede escura, um sofá suficientemente grande para caber duas pessoas: era este o cenário em que transcorreu a última cena.
O ator circulava através do cenário.
Diante dele, uma personagem melancólica nos detalhes, apoiada numa dramaturgia onde nada faltou ou sobrou.
Ela estava ali. Ela continuaria ali. Pés no chão, descalços. Olhos brilhantes e mãos que lhe puxavam.
- Adeus! - disse o ator.
- Ah! Queres que me lance a teus pés - disse a atriz. E lá foi, e chorou.
E caída falou desde o chão, mas suas palavras saíram abafadas pelo choro, e a sua voz subiu do chão como sussurro de um fantasma na tumba.
O ator nada disse, nada pediu.
Extrema reflexão. Silêncio do ventre.
A angústia erguia-se como dique em oposição às doces lembranças.
Na face do ator uma expressão quase inexprimível, às vezes triste, às vezes neutra, às vezes comum, às vezes apagada.
No olhar suplicante da atriz, além das aparências e envoltórios, via-se a alma.
Da plateia eu continuava olhando a cena, mas não tinha o suficiente. Hipnotizado. Paralisado como uma pedra.
Um feixe de luz se alastrou de algum canto e iluminou minha consciência entorpecida e silenciosa. Os pensamentos arderam em chamas. O acúmulo de imagens foi aterrador.
- Um iceberg é esse ator! Uma monstruosa laje de mármore branca! Frio como a morte, a frieza do mármore. - eu disse a moça que sentava ao meu lado.
- Como aconteceu isso? - ela perguntou.
- É impossível de se saber toda a verdade. Fala-se que o amor se foi. Isso é o que vem sendo dito há séculos. - respondi, falando em voz baixa.
Sussurros na plateia.
Um climax. Um determinado momento de mistério naquela última cena.
Uma tensão ou qualquer tentativa de aproximação emocional. Uma história de luta contra o esquecimento, contra o desaparecimento de uma história de amor.
- Adeus! - tornou a dizer o ator.
Virou-se, caminhou em direção à porta. Em seus pensamentos pareciam fluir, naturalmente, lembranças e frases complicadas de longas canções. O amor afundava-se para sempre, e morria lentamente.
Ele abriu a porta.
Passos titubeantes.
Desceu as escadas do palco em direção a um abismo, degrau por degrau, até desaparecer de cena.
Era a última cena de um romance.
Além da noite que estava por vir, novos alvoreceres surgiriam.
Por que então deveria existir alguma culpa ao invés do esquecimento?
Silêncio, silêncio, silêncio.
Fecharam-se as cortinas.
Aplausos!!!
Eber S. Chaves
Salve nossa Literatura Brasileira!
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