Pássaro de fragata
À noite, recolhido em meu quarto...
Voo, como se estivesse planando sobre a corrente marítima com as asas abertas; e, enquanto sinto o vento atacar o meu rosto, aprecio esse jeito intenso e divertido de me locomover.
É sempre assim quando adormeço.
À noite, recolhido em meu quarto...
Lá de cima, perto das nuvens, vejo os pássaros de fragata, quando pairam sobre o mar tropical com suas asas de mais de dois metros de envergadura.
É sempre assim quando adormeço.
À noite, recolhido em meu quarto…
Ganho altitude, centenas de metros. O rosto pegajoso com sangue coagulado, e o sabor das vísceras ainda permanece em minha cavidade oral.
É sempre assim quando adormeço.
À noite, recolhido em meu quarto…
Vejo um pássaro se aproximar de um galho para pousar perto da fêmea. A fêmea então o recebe dobrando o corpo quase na horizontal, abrindo as asas e piando. Ele monta nela mantendo as garras curvadas, e ela levanta a cauda descobrindo a sua abertura genital.
É sempre assim quando adormeço.
À noite, recolhido em meu quarto...
O ego admira a verdade expressa com coragem, a verdade é menos cruel do que a perda. Mas, já entorpecido entre imagens oníricas, há no ato de voar uma recorrência significativa.
É sempre assim quando adormeço.
Eber S. Chaves
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