Aviário
I
O falcão-ferruginoso - que todas as manhãs sobrevoa a pradaria - não sobreviverá mais do que um pombo no parapeito das janelas que sabem sobre os segredos desta noite que encolheu e delineou uma alma velha.
II
A Toutinegra fêmea que partiu para a sua migração outonal não foi a mesma que regressou na primavera que veio sem avisar e em meu peito se alojou, vagarosamente.
III
Os Albatrozes no Oceano Antártico morrem todos os dias, raquíticos e indigestos, por sua pobre dieta de sacos plásticos que flutuam sobre o brilho da luminosidade que reverbera nas águas e parece confundir-se com o reflexo das gaivotas na linha do horizonte.
IV
Os pássaros voam em direções diferentes, voltemos a olhar para cima! Talvez o falcão-ferruginoso sobreviva para voar por entre o azul que veste o céu com um efeito tão distante e infinito nas manhãs ensolaradas. Talvez a Toutinegra fêmea regresse para as matas sombrias, para ali cantar, escondida, o seu agradável murmúrio. E talvez os Albatrozes regurgitem os sacos plásticos, enchendo o Oceano Antártico de lixo do capitalismo.
E nesse céu, essas asas... Eu talvez tenha sido feito para a liberdade, assim como os pássaros!
Eber S. Chaves
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